Neta de fazendeiro


    _Cresci no meio do mato. Valorizo o suor, o cansaço de quem trabalhou de sol a sol pra sustentar 15 bocas. Senhor Anthônio Hilarino, lembro-me deste velhinho madrugando e calçando as botas pra ir buscar o gado no pasto. Eu de pouquinha idade, pra mim era novidade ver o sol nascer ao lado do meu vozinho.
     De chinelo de dedo, enrolada num cobertor, saía logo ligeira só pra poder subir na porteira e ouvir o assovio do vovô. Teimosa, de gênio forte, sempre contrariava o velhinho, entrando de chinelo de dedo dentro do brejo, a lama subia até o joelho e eu sentia meu avô me puxando... achava a coisa mais boa! Dava pra ver nos olhos dele toda a satisfação de ter ali do lado a "filhote da sua cria".
    Na volta avistava a mamãe me esperando no curral. Com um copo na mão, com açucar e chocolate. Tomava o leite quentinho, direto da vaca. Não tinha tanta frescura; e graças a Deus, sei bem oque é ser sadia e bem criada.
    Meu vovozinho, hoje com 88; Seus cabelos todos brancos... sua voz está mais calma, mais sábio te fez os anos. Olho para o senhor, seus traços de velhice e vivência; me orgulho muito vovô de poder ouvir suas histórias, da sua trajetória, do seu sofrimento, da saudade da vovó... 
    Meu orgulho vai muito além de ser neta de fazendeiro; antes disso, sou neta de um guerreiro. Peço a Deus em minhas orações que te abençõe vovôzinho querido, que cuide do senhor, la do céu. O senhor tem meu respeito; é o tipo de caboclo pra quem eu tiro o chapéu!

(Homenagem ao vovô Anthônio Hilarino; da sua neta: Juliana Paulino) 

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